Lula entra na ‘guerra dos bonés’ e publica vídeo com adereço usado por governistas em embate com aliados de Bolsonaro

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva protagonizou mais um episódio de divisões políticas no Brasil ao divulgar um vídeo usando um boné azul com o slogan “O Brasil é dos brasileiros”, um acessório que rapidamente se tornou símbolo de polarização entre a base governista e a oposição.
O item, um contraste claro com o icônico boné vermelho “Make America Great Again“, usado durante a campanha de Donald Trump, foi pensado como uma resposta ao crescente uso de bonés pelos apoiadores de Jair Bolsonaro, especialmente após a vitória do atual governo nas eleições para a presidência da Câmara e do Senado, ocorridas no último sábado. Durante o evento, ministros do governo Lula, incluindo Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Carlos Fávaro (Agricultura), Camilo Santana (Educação), e o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT-AP), optaram por usar o boné azul no Congresso, provocando reações rápidas entre os aliados de Bolsonaro.
A escolha do slogan foi uma sugestão do novo ministro da Secretaria de Comunicação, Sidônio Palmeira. O objetivo era provocar uma espécie de contraponto simbólico ao boné vermelho de Trump, amplamente utilizado por apoiadores de Bolsonaro nos últimos meses, gerando um forte senso de identidade e pertencimento entre seus eleitores. A peça de Lula, no entanto, foi recebida como uma declaração de intenções de reafirmar a ideia de que o Brasil pertence a todos os brasileiros, uma tentativa de distanciar-se dos estigmas do passado político recente.

A Resposta da Oposição: Boné Verde e Amarelo
A reação da oposição não demorou a acontecer. Na segunda-feira seguinte, durante a cerimônia de abertura do ano legislativo, deputados do PL (Partido Liberal) organizaram uma manifestação no plenário da Câmara, desfilando com bonés nas cores verde e amarelo, tradicionalmente associadas ao patriotismo brasileiro. As peças continham a inscrição provocativa: “Comida barata novamente, Bolsonaro 2026”. Ao mesmo tempo, os deputados gritaram palavras de ordem como “nem picanha, nem café”, fazendo referência ao aumento dos preços de alimentos, um dos fatores que tem pressionado negativamente a popularidade do governo Lula.
Esses protestos, orquestrados por aliados de Bolsonaro, visam criticar diretamente a gestão atual, que tem sido alvo de críticas pela alta inflação e pela dificuldade em controlar a disparada dos preços, especialmente dos itens básicos. O uso do boné, agora associado a um movimento de oposição explícita, acirra ainda mais os ânimos no Congresso e no debate público.

Uma Estratégia de Comunicação
O boné, no entanto, não é apenas um acessório de moda ou uma peça de provocação política. É, antes de tudo, uma estratégia de comunicação e identidade. Segundo Sidônio Palmeira, a escolha do slogan “O Brasil é dos brasileiros” busca ser uma resposta direta ao discurso populista e nacionalista de Bolsonaro e seus apoiadores, que têm usado símbolos como o boné vermelho para fortalecer uma narrativa de “Brasil contra o mundo“. Ao colocar no centro o conceito de pertencimento, o governo Lula tenta reforçar a ideia de que o país é plural, e que todos os brasileiros têm direito de participar da construção do futuro da nação, independentemente da cor ou ideologia.
Em meio à batalha política, a peça de vestuário se transforma em mais um elemento de disputa simbólica entre as forças que polarizam o Brasil. A utilização do boné por membros do governo e a reação de seus opositores em replicar a ideia, agora com a versão verde e amarela, reflete o aumento da tensão política nos primeiros dias do novo governo. A guerra dos bonés, que começou como uma simples escolha de estilo, já se tornou um campo de batalha ideológica.
Com as tensões aumentando, especialmente com o debate sobre os preços dos alimentos e a crescente mobilização das bases opositoras, será interessante acompanhar como esse episódio se desenrolará nas próximas semanas, quando o impacto das políticas econômicas de Lula começarem a se refletir mais diretamente no bolso do cidadão brasileiro. O boné pode ter sido o primeiro passo, mas certamente não será o último em um cenário político que promete ser tão agitado quanto a peça de vestuário que elegeram como símbolo.
Fonte: O Globo
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