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‘Ainda Estou Aqui’ ganha Oscar de Melhor Filme Internacional: a trajetória da produção que leva primeiro prêmio para o Brasil

‘Ainda Estou Aqui’ ganha Oscar de Melhor Filme Internacional: a trajetória da produção que leva primeiro prêmio para o Brasil


Na noite do último domingo (2), a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas concedeu ao Brasil seu primeiro Oscar de Melhor Filme Internacional com ‘Ainda Estou Aqui’, dirigido por Walter Salles. A história baseada na luta de Eunice Paiva contra a ditadura militar emocionou o mundo e consolidou o cinema nacional no cenário internacional.

O diretor Walter Salles dedicou a estatueta à viúva do ex-deputado Rubens Paiva, assassinado pelo regime militar, e às atrizes que a interpretaram na obra: Fernanda Torres e sua mãe, Fernanda Montenegro. “Esse filme vai para uma mulher que, após uma perda enorme por um regime autoritário, decidiu não se render: Eunice Paiva“, declarou Salles em seu discurso.

A vitória marca a primeira vez que um filme brasileiro recebe o prêmio nessa categoria. Em 1960, ‘Orfeu Negro’, filmado no Brasil e falado em português, levou a estatueta, mas representando a França. Outras produções nacionais chegaram à indicação, como ‘O Pagador de Promessas’ (1963) e ‘Central do Brasil’ (1999), mas sem conquistar o prêmio.

A repercussão da vitória foi imediata. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva celebrou em suas redes sociais: “Hoje é o dia de sentir ainda mais orgulho de ser brasileiro. Orgulho do nosso cinema, dos nossos artistas e, principalmente, orgulho da nossa democracia.

Trajetória vitoriosa e impacto político

‘Ainda Estou Aqui’ percorreu um caminho de sucesso antes do Oscar, vencendo prêmios como o Globo de Ouro, o Goya e os festivais de Veneza e Roterdã. O longa também concorreu ao Oscar de Melhor Filme, sendo a primeira produção brasileira indicada na categoria principal.


O longa traz a história de Eunice Paiva, interpretada por Fernanda Torres, e sua luta incansável por justiça após o sequestro e assassinato de seu marido pela ditadura militar. A produção tem sido vista como um lembrete da importância da resistência e da luta pelos direitos humanos, resgatando um período sombrio da história brasileira.

A crítica internacional recebeu ‘Ainda Estou Aqui’ com entusiasmo. O filme alcançou 97% de aprovação no Rotten Tomatoes e foi citado entre os melhores do ano pela BBC. Caryn James, da BBC, elogiou a produção como “uma mistura alquímica do pessoal, do político e do artístico“. Já o The Times destacou a força da narrativa ao retratar uma mãe que não desistiu da verdade.

Por outro lado, algumas críticas apontaram que o filme poderia explorar ainda mais a revolta e o horror dos eventos retratados. Peter Bradshaw, do The Guardian, escreveu que a fidelidade ao autocontrole de Eunice acaba minimizando a indignação e a dor.


Repercussão na Justiça

O impacto do filme foi além das telonas. O Supremo Tribunal Federal retomou discussões sobre a Lei da Anistia, que impede a responsabilização de agentes do regime militar por crimes cometidos entre 1964 e 1985. O caso do assassinato de Rubens Paiva é um dos analisados, podendo reabrir processos contra ex-militares envolvidos.

A vitória de ‘Ainda Estou Aqui’ representa não apenas um marco para o cinema brasileiro, mas também uma contribuição significativa para o debate sobre justiça histórica e democracia.

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