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“Fala de Barroso mudou clima para anistia “, diz Ciro Nogueira em entrevista

“Fala de Barroso mudou clima para anistia “, diz Ciro Nogueira em entrevista

Foto: Renato Andrade/Cidadeverde.com

O presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), atribui a uma declaração do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luís Roberto Barroso, o clima propício para deflagração do movimento pela anistia aos condenados de 8 de Janeiro, incluindo Jair Bolsonaro (PL).

Barroso disse que não existe anistia antes de julgamento, mas que depois passa a ser uma “questão política”. A fala foi interpretada por bolsonaristas como um aceno. À coluna Mônica Bergamo, o ministro negou que tenha defendido a ideia de anistia.

Ciro reconhece, porém, ser difícil reverter a inelegibilidade do ex-presidente. Segundo ele, embora os filhos de Bolsonaro protestem contra aliados que busquem se lançar para 2026, vão apoiar quem o pai indicar. Ele defende que essa escolha ocorra em janeiro, e que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) é o mais credenciado.

Sobre a precipitação do desembarque do governo Lula (PT), Ciro afirma que agora há um projeto vencedor: “A gente está vendo o porto seguro ali [em 2026]”.

PERGUNTA – Davi Alcolumbre (União-AP) falou que vai apresentar um texto alternativo ao PL da Anistia. O sr. sabe que projeto é esse? 

CIRO NOGUEIRA – Acho que o tema que tem que ser discutido. Temos que avaliar na Câmara e no Senado. O mais importante é o momento de ser apresentado.
A fala do presidente Barroso é muito dura, que acha que isso não tem que ser discutido antes de terminar o julgamento. O que eu defendia é que votasse na Câmara antes [do julgamento] e logo depois no Senado. Mas vamos fazer o que for mais correto e eu acho que tem que ter esse respeito à fala do presidente Barroso.
A anistia, Davi vai ter que ser obrigado a votar, se a maioria quiser.

P – O presidente da Câmara, Hugo Motta, antes estava resistente, mas agora admite pautar a anistia. O que mudou? 

CN – Pode ter passado a ter clima [favorável]. O próprio julgamento, a declaração do presidente Barroso foi muito importante. O Barroso repercutiu muito menos do que deveria repercutir na mídia, me perdoe. Dizer que a anistia é uma decisão política é muito forte.

P – Mas estão se fiando só nessa declaração? Há conversas de bastidor? 

CN – Lógico que a gente conversa. Brasília é uma conversa constante. Já falei com diversos ministros, não vou citar nomes.

P – O sr. consultou Bolsonaro sobre essa articulação? 

CN – Ele me deu essa missão de lutar aqui e eu vou cumpri-la.

P – Que acordo é esse sobre anistia, o que está sendo conversado? 

CN – Não tem acordo. Tem uma luta de uma parte, que acho que é a maioria do Congresso. Por que ninguém tem dúvida que tem maioria para aprovar. Se não, não estariam brigando tanto para não aprovar.

P – Ouvimos que a ideia seria anistia ampla, com Bolsonaro, mas com acordo político para manter a inelegibilidade dele. 

CN – Não estamos tratando de inelegibilidade. Ele está inelegível por aquele absurdo daquela reunião de embaixadores. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. É muito difícil você conseguir anistiar ele politicamente, eleitoralmente —que era o certo. Eu tenho um projeto para isso, mas acho muito difícil de acontecer, infelizmente.

P – E o ex-presidente está ciente disso? 

CN – Está consciente que não vão dar o direito a disputar a eleição.

P – Essa articulação não pode ser considerada uma afronta ao STF? 

CN – Não, temos todo o respeito ao Supremo. O STF também tem que ter [pelo Congresso]. Legislar é uma atribuição nossa. O Supremo, quando toma a decisão, até às vezes contra o Parlamento, é afronta? Não considero.

P – O sr. acha que a anistia pode ser aprovada a tempo de Bolsonaro não ir para a cadeia? 

CN – Eu espero que seja. Se existe uma pessoa com a saúde debilitada é ele. Sofre o tempo todo com soluço, passando mal, vomitando. Se botarem ele na cadeia, é porque querem matar o Bolsonaro. Eu espero que não exista esse espírito no Supremo, de querer matar o presidente.

P – Bolsonaro já tem um candidato? 

CN – Eu acho que tem.

P – É o Tarcísio? 

CN – Quem vai dizer é ele.

P – Mas o sr. acha que o papel do Tarcísio nessa articulação o credencia para ser o candidato, inclusive junto à família? 

CN – O que mais credencia o Tarcísio é a chance de vitória. A única pessoa que não pode perder essa próxima eleição é o Bolsonaro, e ele não vai arriscar. Tire as conclusões. O Tarcísio é candidato, se tiver o apoio do Bolsonaro. O Lula nem disputa com o Tarcísio.

P – O sr. acha que o Lula nem disputaria? 

CN – Você acha que o Lula está falando toda hora em “se eu tiver bem de saúde”, expondo o seu maior defeito, por quê? Isso é uma porta de saída para caso o Tarcísio seja o candidato apoiado pelo Bolsonaro.

P – Quando Bolsonaro vai fazer anúncio sobre sucessão? 

CN – Defendo que, se ele escolher um dos candidatos, acho que só deveria ser em janeiro.

P – O sr. acha que os filhos de Bolsonaro vão aceitar um nome que não seja da família? 

CN – Tu acha que o Bolsonaro vai anunciar um candidato, aí o Eduardo vai ser candidato? O Flávio vai ser candidato? Não vai. Eu não tenho dúvida, vão obedecer o pai. O comando é do pai. O líder é ele.

P – Se houver a condenação do Bolsonaro agora no STF, há uma expectativa de que venham novas sanções. 

CN – Critiquei o Eduardo. Ele sabe da minha posição de que defender tarifa contra o Brasil é um erro. Agora, eu também não sei o que faria se meu pai estivesse sendo injustiçado. O grande erro do presidente Trump foi não explicar para o Brasil quem é o verdadeiro culpado: Lula.

P – Bolsonaro é citado mais de uma vez na carta de Trump. Eduardo também fala isso

CN – Mas o real motivo disso foi a política externa [de Lula]. Tinha que ser a favor do Brasil.

P – Eduardo está atuando contra o país? 

CN – Por um ponto de vista, lógico, quando você pede sanções contra o país… Mas ele está lutando pelo pai. Volto a dizer, não vou julgá-lo.

P – Até a semana passada o sr. dizia que, para desembarcar [do governo], seria necessário ter aonde ir e que ainda não se tinha isso. O que mudou? 

CN – Por mim, não tinha nem entrado nesse governo. Mas agora chegou um ponto que não dá mais. Não vamos estar com o Lula no próximo ano. Agora nós temos um projeto vencedor. A gente está vendo o porto seguro ali [em 2026].

P – O sr. disse a aliados que a EBC teria reproduzido uma reportagem contra o sr., o que não aconteceu. Ela foi assinada por um jornalista que tem contrato com a empresa pública. Isso pesou para antecipar o desembarque? 

CN – [Causa] revolta. Me deu mais vontade. Ser acusado por um funcionário do Sidônio [Palmeira, ministro da Secom] é de uma irresponsabilidade. Mas o tempo mostra que é uma fake absurda. E eu não vou culpar os cachorros, não, eu vou atrás dos donos.,

Por CATIA SEABRA E MARIANNA HOLANDA * FOLHAPRESS

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